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Segundo dia de SBPJor tem sessões de trabalhos e debate sobre crises e transformações no Jornalismo

Os professores Roseli Fígaro (USP) e Carlos Franciscato (UFS) refletiram sobre o desempenho acadêmico do Jornalismo e as rupturas do campo; ao longo do dia, dezenas de artigos foram apresentados


Por Giovanna Carvalho (2º semestre de Jornalismo da UFC, Taisy Evangelista (6º semestre de Jornalismo da UNIFOR), Fernanda Filiú (2º semestre de Jornalismo da UFC), Sofia Leite (2º semestre de Jornalismo da UFC)


O segundo dia de SBPJOR 2022 foi marcado pelo compartilhamento de saberes e reflexões sobre a pesquisa e a prática jornalística. As atribulações e transformações ocorridas no meio jornalístico nos últimos anos foram pauta da mesa de debate “Entre crises e (re)construções: a pesquisa em jornalismo 20 anos depois”, realizada na manhã de quinta-feira (10).



Roseli Figaro, Cíntia Xavier e Carlos Franciscato durante mesa de debate. Foto: Gruppe/UFC

Lideraram o debate a professora Roseli Fígaro (USP), presidente da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação (COMPÓS), e o professor Carlos Franciscato (UFS), mestre e doutor em Comunicação e Cultura. O debate mediado por Cíntia Xavier, vice-presidente da SBPJor e doutora em Comunicação pela Unisinos.


Fransciscato iniciou a discussão apresentando atribulações que têm afligido o Jornalismo. “A crise no Jornalismo é, na verdade, uma crise do espaço democrático. A gente viveu isso cruelmente nas últimas semanas ou meses. Então, tem a ver com uma perda da cultura democrática, perda de valor do espaço público”, ressaltou. Ele também abordou temas como pós-verdade, desinstitucionalização, desinformação, precarização do trabalho e plataformização.


O professor também expôs seu estudo sobre como pesquisas em Jornalismo têm discutido e elaborado diagnósticos para o entendimento das metamorfoses enfrentadas por esse meio no século XXI. Por fim, Franciscato realizou uma análise da amostra representativa da produção acadêmica internacional em Jornalismo ao longo de 25 anos.


Dando continuidade ao debate, Roseli Fígaro apresentou sua trajetória de aproximadamente 12 anos de estudos no Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT-USP), coordenado pela mesma. “Quando a gente fala de crise no jornalismo, nós estamos falando de profundas transformações no mundo, e o eixo dessas transformações está na forma de produção. O conhecimento científico está sendo usado em benefício de uma lógica de maior concentração de riquezas, em todos os sentidos, de expropriação da terra, da água, do ar, das florestas e da vida humana”, destacou.


A pesquisadora refletiu sobre a densificação das horas e do ritmo de trabalho dos jornalistas, os desafios que a pandemia impôs a esses profissionais, o jornalismo digital, a regulamentação das plataformas de comunicação e a regulamentação do trabalho nas plataformas digitais.


Apresentações de trabalhos


O segundo dia da SBPJor 2022 contou com diversas sessões de apresentações de artigos de pesquisadores. Na sessão Jornalismo, Imagem e Som, Lígia Rodrigues (UFCA), por exemplo, debateu os resultados de seu trabalho, intitulado “Imagens brutas: reflexões sobre o flagrante violento no jornalismo audiovisual''.


Ela refletiu sobre o tratamento dado às imagens de violência que chegam às redações, observando como o portal G1 e os telejornais da Rede Globo trataram os flagrantes violentos de dois episódios específicos: os assassinatos de Genivaldo de Jesus Santos, morto por sufocamento pela Polícia Rodoviária Federal dentro da viatura, em 2022; e João Alberto Silveira Freitas, espancado até à morte em uma unidade da rede de supermercados Carrefour, em 2020.


Lígia Rodrigues, professora e pesquisadora da UFCA. Foto: Gruppe/UFC

Expondo o que observou durante a pesquisa, Lígia Rodrigues falou, ainda, sobre como os demarcadores jornalísticos operam na tentativa de não tornar as imagens brutais aos olhos do público.


Já Bruno Balacó, doutorando em Comunicação pela UFC, apresentou o artigo “Um panorama sobre as estratégias metodológicas utilizadas nos estudos sobre podcasts apresentados em congressos da área de Comunicação (2017-2021)”. Analisando quatro dos principais eventos científicos em comunicação do país (Intercom, Compós, Alcar e SBPJor), o pesquisador verificou que, nos últimos cinco anos, 81 trabalhos sobre o tema foram apresentados. Partindo desse dado, ele questiona: que caminhos metodológicos estão sendo utilizados?


O doutorando Bruno Balacó, da UFC, durante apresentação. Foto: Gruppe/UFC

Balacó identificou metodologias em comum em 35 dos 81 trabalhos analisados, que utilizaram a revisão bibliográfica como estratégia metodológica. Segundo seu levantamento, essa foi a técnica mais empregada nas produções, seguida do estudo de casos. Por meio das análises, o pesquisador concluiu que é importante construir metodologias cada vez mais sólidas, que possam ter um bom desempenho no estudo de conteúdos sonoros, visto que essa é uma carência dentro da área de comunicação.


Futuros para o Jornalismo Digital


A sessão Futuros para o Jornalismo Digital, com coordenação de Raquel Ritter Longhi e Marcelo Barcelos, discutiu sobre as tendências de otimização de mecanismos de busca, o uso contemporâneo da inteligência artificial no jornalismo, a inovação e o futuro da inserção de notícias no metaverso.


Alciane Baccin, diretora editorial da SBPJor e doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), discorreu sobre a necessidade do reconhecimento do jornalismo como indústria criativa. Em seu trabalho intitulado “Criatividade e Inovação: o jornalismo como indústria criativa”, Baccin apontou como o capital intelectual e criativo são essenciais para o trabalho jornalístico na atualidade.


Alciane Baccin apresenta trabalho na SBPJor 2022. Foto: Gruppe/UFC

Segundo ela, com uma oferta informativa ampla e diversificada como a de hoje, as empresas jornalísticas demandam criatividade para se reinventarem junto às transformações sócio-tecnológicas, consolidando o jornalismo como indústria criativa.


SESSÕES LIVRES TARDE

A sessão Jornalismo e Produção de Sentido contou com a apresentação de quatro trabalhos, abordando desde a humanização dos acontecimentos no jornalismo literário até a análise da crítica de cinema como gênero jornalístico.


Lorena Fonseca Marcello, pesquisadora da UFC, falou sobre a relação entre jornalismo e memória, apresentando a revisão sistemática de literatura realizada em seu artigo. Ela explica que o jornalismo é responsável por decidir quais fatos serão contados e, consequentemente, lembrados. No entanto, também há, com isso, a responsabilidade de definir a maneira como os acontecimentos serão narrados, o que acaba sendo feito de forma parcial.


A mestranda da UFC Lorena Marcello em sua apresentação. Foto: Gruppe/UFC

Jornalismo e Disputas Simbólicas foi mais uma das sessões do evento. Os cinco artigos apresentados examinaram temas como os sentidos de família nos portais O Estado de São Paulo e O Globo, o hacker de Araraquara como exemplo de disputa discursiva pelo poder simbólico através do jornalismo e a desinformação sobre indígenas na Amazônia.


Stéfani Fontanive, da UFRGS, explanou sobre o estudo “Alteridade e outridade: o outro na editoria Cotidiano da Folha de S. Paulo”. A autora descreveu o significado de alteridade, que seria aquilo que é próprio do outro. Já outridade seria o outro em si. O outro que Stéfani analisou foram as fontes e os sujeitos dos textos jornalísticos. Ela buscou compreender a forma como o jornal se relaciona com esse outro. A conclusão à qual chegou foi a de que, na Folha, há omissão e seleção de quem aparece ou não nas matérias.


Já na sessão Jornalismo e Política, foram apresentados cinco trabalhos. Representantes de vários estados do Brasil falaram sobre temas como as estratégias de desinformação no site Terça Livre durante a cobertura sobre o voto impresso e os impactos do Projeto de Lei das Fake News sobre o jornalismo.


Thatianny Nascimento durante apresentação. Foto: Gruppe/UFC

A pesquisadora Thatiany do Nascimento Pereira, da UFC, expôs o trabalho intitulado “Qualidade no jornalismo e democracia: uma revisão sistemática de literatura”. Sua pesquisa trata o jornalismo como força mediadora na democracia e que, nem sempre, colabora para o fortalecimento do modelo político em questão. Thatiany mostrou, em uma de suas conclusões, que o tema de seu estudo é uma preocupação que está crescendo no mundo inteiro e que é considerada urgente.


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