Por Giovanna Carvalho Moura, Sofia Leite, Giselly Correa Barata e Taisy Evangelista 2º e 5º semestres do Curso de Jornalismo da UFC; 6º semestre do Curso de Jornalismo da Unifor
O dia de encerramento da SBPJor 2022, em Fortaleza, teve as derradeiras sessões de apresentação e discussão de trabalhos, que aconteceram na manhã e na tarde da última sexta-feira (11), no Campus Benfica da Universidade Federal do Ceará. Tendo o jornalismo como elemento central das discussões, as sessões coordenadas, coordenadas de redes de pesquisa e livres enfatizaram as diferentes possibilidades teóricas e metodológicas para o estudo das práticas jornalísticas e seus fundamentos.
Ao todo, foram apresentados 143 trabalhos no 20º Encontro de Pesquisadores em Jornalismo, dentre os quais 32 no 12º Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJor). Houve duas propostas de sessões coordenadas com apresentação de 9 trabalhos., além de 75 Comunicações livres em 15 sessões.
Redes de pesquisa e coordenadas livres iniciam dia de debates
A comunicação digital na sociedade pós-pandemia, o isolamento social, os desafios que a pandemia proporcionou aos jornalistas e os desafios do radiojornalismo na contemporaneidade foram temas de debate durante a manhã do último dia de SBPJor. As sessões livres e coordenadas aconteceram a partir das 8h30m e contaram com a participação de diversos professores convidados.
A sessão TELEJOR: Telejornalismo como campo do conhecimento: balanços e perspectivas, foi marcada pelas contribuições acadêmicas e reflexões dos pesquisadores sobre o jornalismo no período pandêmico e as dificuldades enfrentadas por esses profissionais em relação a adaptação ao meio digital, a desinformação nas pesquisas em jornalismo no contexto da pandemia, sobrecarga dos jornalistas, esvaziamento das redações, entre outras.
O pesquisador George Miranda (UFPA), Mestrando do Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), apresentou seu trabalho intitulado Telejornalismo e comunicação: a desapropriação do Whatsapp para produção de TV. O estudo, que foi construído no contexto pandêmico, visa compreender o perfil dos produtores de TV, como esses profissionais utilizam do Whatsapp como uma ferramenta essencial na rotina de produção das emissoras e entender como o procedimento de checagem acontece sabendo que os conteúdos chegam para os profissionais através deste instrumento.
Já a professora Maíra Sousa (UNAMA), Pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da (PPGCOM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Apresentou sua pesquisa intitulada A adaptação do Sem Censura Pará à pandemia de Covid-19. O objetivo do artigo científico era compreender como o programa de TV Sem Censura Pará, exibido na TV Cultura Pará, se adaptou a pandemia, retratando as vantagens e desvantagens dessa adaptação.
No decurso da sessão RADIOJOR: Desafios do radiojornalismo brasileiro na atualidade foram abordados tópicos como o sistema de gestão de qualidade do radiojornalismo, a apropriação dos rádios e podcasts feitas pelos presidenciáveis nas estratégias pré-campanha em 2022, entre outros. A professora Izani Mustafá (UFMA), doutora em Comunicação Social, apresentou sua pesquisa nomeada A humanização no jornalismo científico em podcasts no Brasil: um estudo audioestrutural do conteúdo.
Ao todo ocorreram 5 sessões coordenadas de rede pela manhã no último dia de SBPJor, foram elas:
TELEJOR: Telejornalismo como campo do conhecimento: balanços e perspectivas
JORTEC: Comunicação digital pós-Covid-19. Isolamento, fragmentação social, novos tipos de relação pessoal, profissional e produtiva no jornalismo: paradoxos dos novos tempos
RADIOJOR: Desafios do radiojornalismo brasileiro na atualidade
Renami: Experiências da narrativa jornalística contemporânea
RENOI: XXX Coordenada da RENOI
As articulações midiáticas e as estratégias de expansão transmídia foram a pauta do trabalho apresentado por Marcos Carvalho Macedo, doutorando em Comunicação no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM/UFPE). Com o artigo intitulado "Qual é a mídia?: Articulações e sentidos das mídias e plataformas em narrativas transmídia jornalísticas”, o pesquisador refletiu sobre como escolher a mídia ou plataforma mais adequada para a expansão dos conteúdos. O artigo fez parte da sessão livre Jornalismo, produção simbólica e plataformas.
Outra contribuição para o enriquecimento do debate foi o artigo “Ao que nos referimos quando falamos em Jornalismo Declaratório? Uma análise de matérias “acusadas” de declaratórias no Twitter, apresentado por Arthur Araújo, mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBa). A pesquisa objetiva identificar o que os usuários da plataforma Twitter entendem como jornalismo declaratório e levou em consideração diversas matérias publicadas, de veículos de comunicação distintos, e suas repercussões dentro da rede.
Na sessão Jornalismo e Tecnologias, a apresentação da pesquisadora Adriana Alves Rodrigues, doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), explorou sobre o surgimento do fenômeno da datademia a partir do entrelaçamento entre os conceitos de dataficação e big data no que se refere à cobertura jornalística durante o pico pandêmico, com o trabalho “A dataficação do vírus: Datademia na cobertura jornalística sobre a Covid-19 em redes digitais”.
Ao todo, cinco sessões livres ocorreram pela manhã, nas quais foram apresentados 26 trabalhos acadêmicos aprovados para o SBPJor deste ano. As sessões foram as seguintes:
Jornalismo, Produção Simbólica e Plataformas
Jornalismo, Conhecimento e Inovação
Jornalismo e Tecnologias
Trabalho Jornalístico e Rotinas Produtivas
Jornalismo, Gênero e Questões Étnicas I
Identidade jornalística e acessibilidade foram discutidos à tarde
A última tarde de sessões coordenadas e coordenadas de redes de pesquisa no 20º SBPJor teve 22 trabalhos aprovados para apresentação, dos quais 18 são de redes de pesquisa. A sessão TELEJOR: Telejornalismo entre crises e (re)construções trouxe cinco pesquisas. Temas como a rotina produtiva do jornal Esta Manhã e a transposição dos telejornais da TV para os portais de internet foram abordados. Antonio Pinheiro Torres Neto, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), expôs o estudo “Entre flagrantes e qualidades do acontecimento: a constituição das imagens de videovigilância como elemento de noticiabilidade”.
No trabalho, Antonio analisou o jornal cearense CETV 1ª Edição no período de julho de 2021. O dado encontrado pelo pesquisador foi de que 85% das edições do programa continham acontecimentos flagrados por câmeras de segurança. Também foi mostrado que existe uma naturalização da presença de equipamentos de videomonitoramento em espaços públicos e privados, o que torna mais comum o uso desse tipo de gravação. As conclusões às quais Neto chegou foram de que há um desequilíbrio entre os valores-notícia e as imagens de videovigilância e de que é possível, com o uso dessa estratégia, revelar potencialidades, mas também fragilidades, para a relevância jornalística.
Já a sessão JORTEC: Ciberjornalismo e redes sociais – entre a inovação e a crise abrangeu quatro pesquisas. Os temas trazidos foram muito variados, indo desde o combate à desinformação pelo WhatsApp até a contextualização do jornalismo no mundo digital. Os estudiosos Lucas Silva e Helder Prior, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), apresentaram o trabalho intitulado “Discurso de ódio homofóbico no Facebook: uma análise dos comentários das publicações de notícias nos ciberjornais de Campo Grande”.
Helder caracterizou o discurso de ódio como uma manifestação de discriminação que é potencializada pelas redes sociais. As consequências desse tipo de atitude são o insulto e a instigação, que seria entendida como a motivação para gerar mais ataques. Isso tudo acontece devido à fase da internet que está sendo vivenciada no contexto atual, chamada pelos pesquisadores de apocalíptica. A conclusão do trabalho é de que, ao não existir moderação nos comentários das matérias jornalísticas publicadas no Facebook, estas funcionam como caixas de ressonância do discurso de ódio. Esse fator leva à instigação ao ódio contra pessoas LGBTQIAP+.
A sessão RETIJ: Perfil do jornalista brasileiro trouxe quatro pesquisas. Estudos mostrando a situação dos jornalistas negros e a atual conjuntura de precarização causada pela plataformização do trabalho foram apresentados. “O perfil de jovens jornalistas no Brasil: entre a precarização e a identificação profissional” foi a pesquisa trazida pelos pesquisadores Janaina Visibeli, da UEMG, Ana Flávia Marques, da USP, Naiana Rodrigues, da UFC e Rafael Costa, também da UFC. Com o objetivo de apresentar o perfil desse jovem jornalista e alguns desafios vivenciados por ele no exercício da profissão, foi analisada uma amostra contendo pessoas de 18 a 30 anos que responderam, em 2021, à pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro.
Foi entendido, por meio disso, que a maioria desses trabalhadores são mulheres brancas solteiras sem filhos e com formação superior em cursos de Jornalismo ou Comunicação. Os autores também descobriram que 88,3% dos jovens jornalistas já sofreram assédio moral e que são mais suscetíveis a se submeterem a situações de hierarquia. Outro dados importantes são os de que 52,9% desses profissionais não têm o registro de trabalho e 62,6% não conseguem se manter completamente com o salário que recebem. Segundo os pesquisadores, todos esses fatores são marcas estruturais do sistema de produção capitalista.
A sessÃo #AcesseJOR – Acessibilidade, design e inovação social no jornalismo digital contou com a exposição de quatro estudos. As temáticas variaram entre a acessibilidade da visualização de dados em produtos jornalísticos premiados e reflexões sobre o assunto. O trabalho “Inovação e acessibilidade: o que os veículos jornalísticos nacionais e estrangeiros dizem que fazem” foi construído pelos pesquisadores Alexandro Mota, Adalton dos Anjos, Alix Herrera, Lívia Vieira, Moisés Costa e Washington José de Souza, representantes da UFBA.
Os autores definiram acessibilidade como o acesso pleno a todos os tipos de conteúdo. O que eles tentaram trazer como ponto principal foi a possibilidade de aproximar a inovação da acessibilidade, objetivando um jornalismo mais diverso. Foi explicado que pensar a acessibilidade é pensar, além da esfera social, a esfera mercadológica, com o possível aumento do público pagante dos produtos jornalísticos.
Nas considerações finais, os estudiosos afirmaram que a representatividade aparece frequentemente no discurso ou missão do jornalismo em oferecer ao público uma pluralidade de vozes. No entanto, há raras menções a pessoas com deficiência. Representatividade, para os jornais, engloba, geralmente, apenas as mulheres, a população LGBTQIAP+ e as pessoas pretas. Também foi mostrado que um dos principais elementos, associado à acessibilidade, para o qual os veículos demonstram e divulgam esforços é a navegação.
Outra conclusão foi a de que o discurso de acessibilidade nos veículos jornalísticos está muito relacionado a estratégias de marketing, ou seja, não há, de fato, a execução do que é prometido. Para o futuro, os pesquisadores sugeriram pensar mudanças na cultura e nas concepções das organizações sobre acessibilidade e diversidade. Propuseram, para além disso, questionar os jornais sobre para quem estão produzindo, quem vai poder consumir aquilo e o que poderia ser feito para tornar o conteúdo mais abrangente.
RADIOJOR – A produção e o trabalho na reconfiguração do jornalismo sonoro foi mais uma sessão do dia. Com a maioria dos cinco trabalhos abordando podcasts, a RADIOJOR apresentou pesquisas sobre as mudanças ocorridas no jornalismo sonoro nos últimos anos. Apenas dois estudos envolviam o rádio, um sobre cobertura radiojornalísitca de carnaval e outro sobre o programa Notícia na Manhã, da rádio CBN Floripa. Já os trabalhos que discutiam a questão dos podcasts como nova forma de jornalismo sonoro eram sobre o metadiscurso em podcasts narrativos, as profissionais mulheres em podcasts de jornalismo esportivo e os podcasts informativos, com um estudo de caso do 123 Segundos.
Sessões livres debateram teoria e prática
Na tarde desta sexta-feira, 11, foi realizada mais uma rodada das sessões livres, desta vez em salas da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (FEAAC), em Fortaleza. Com objetivo de discutir temas fundamentais no campo do jornalismo, cinco temáticas, organizadas em sessões, pautaram debates entre os pesquisadores — ao todo, 25 trabalhos foram aprovados para as sessões livres dessa tarde. São elas:
Fundamentos teóricos do Jornalismo
Jornalismo e coberturas
Jornalismo, gênero e questões étnicas II
Jornalismo e território digital
Jornalismo Especializado
No primeiro eixo, voltado aos fundamentos teóricos do jornalismo, um dos trabalhos apresentados foi “Jornalismo e o papel de cão de guarda nas democracias atuais: uma revisão sistemática de literatura (2018-2022)”, dos pesquisadores Wania Caldas e Kaique Mancoso, ambos discentes da pós graduação em comunicação da Universidade Federal do Ceará. Nele, os autores propuseram uma revisão da literatura especializada acerca do papel do jornalismo na manutenção das democracias contemporâneas.
A sessão “Jornalismo e território digital” teve, entre os expositores, a professora e pesquisadora Juliana Lotif (UFCA), que apresentou o trabalho “Cariri Pré-histórico”: a reportagem transmídia na prática”. Ainda nesta sessão, houve a apresentação do trabalho “Por trás do anúncio: a lógica capitalista e a ideologia do trabalho mediado por plataforma”, de Cláudia Ferreira, mestranda em Comunicação pela UFC. O trabalho de Cláudia investiga as consequências da plataformização nas rotinas produtivas dos profissionais da comunicação.
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