O evento promovido pelo PráxisJor reuniu jornalistas e pesquisadores do Brasil e do exterior para debater rupturas, continuidades e atualizações do fazer jornalístico
Por Lívia Nogueira
8° semestre do Curso de Jornalismo da UFC
Mais uma relevante roda de conversa marcou o encerramento da programação idealizada pelo Grupo de Pesquisa Práxis no Jornalismo (PráxisJor) para anteceder a 20º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e o 12º Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJor), que têm início nesta quarta (09/11).
O debate, que abordou o trabalho do repórter jornalístico no cenário pós-pandêmico, integrou a programação do III Seminário Internacional Pensar e Fazer Jornalismo, cuja temática é “Outros Jornalismos, Otras Miradas”. Profissionais representantes de mídias tradicionais, alternativas e até internacionais compuseram a roda de conversa.
Presencialmente ou virtualmente, participaram da mesa: Laura Salomé, representante do portal argentino Marcha Noticias e, como a mesma se define, “jornalista, feminista e militante”; Giovana Teles, jornalista do Grupo Globo com foco em economia, política e meio ambiente; Bruno de Castro, um dos fundadores, repórteres e editores do Ceará Crioulo; e Thaty Nascimento, pesquisadora do PráxisJor e repórter no Sistema Verdes Mares. O debate foi mediado por Rafael Mesquita, também integrante do PráxisJor e presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce).
Laura Salomé abriu a discussão ressaltando brevemente a missão e as ações do veículo de comunicação do qual é integrante, o que direcionou a contribuição da jornalista à roda. A Marcha Notícias se propõe a produzir e disseminar notícias que priorizem causas populares e narrativas comumente invisibilizadas e isso é apontado por Laura como uma das funções emergentes dos jornalistas, principalmente, no pós-pandemia.
“Relevância noticiosa é uma construção e um consenso”, é o que evidencia a “periodista” ao apelar para a construção coletiva de um jornalismo moderno e consciente por profissionais de todo o mundo.
Em continuidade ao debate, Giovana Teles acolheu e compartilhou vivências do trabalho como jornalista no período de ‘picos’ da pandemia, que, segundo ela, primou pela responsabilidade social e a contribuição com a saúde mundial. “Essa pandemia, a pós-pandemia e tudo o que a gente viveu politicamente só vem para reforçar que, quanto mais grave é a crise, mais importante é o papel do jornalista, do jornalismo feito de forma séria e comprometida com a realidade”, destaca Giovana.
A representante do Grupo Globo também refletiu sobre a preocupação pessoal e profissional com a onda de ataques ao jornalismo comprometido com a transparência e a verdade, além da luta contra a ascensão dos fenômenos de fake news e deep fake, que ameaçam o trabalho do jornalista na atualidade.
“As próprias teorias da comunicação e do jornalismo estão mudando, se adaptando aos novos tempos, às novas dinâmicas desses processos comunicacionais, às novas reivindicações sociais, aos novos direitos adquiridos […] entre retrocessos e avanços, a gente tem um debate público que se põe, do qual o jornalismo é peça fundamental”, é o que acrescenta Bruno de Castro à discussão sobre o jornalismo que se constrói no agora.
Como representante de um coletivo de comunicação independente centrado em pautas para além do discurso hegemônicos e tradicionais - o Ceará Crioulo -, Bruno ressalta que o período pandêmico evidenciou o trabalho dos veículos de comunicação alternativa, já que estabeleceu o modo de trabalho dessas organizações como o “seguro”. Isso, para ele, direcionou a atenção para a importância dessas mídias e do que elas propõem de mudanças para uma prática jornalística mais atenta às diferenças e às lutas sociais.
Thaty Nascimento completou o debate abordando a angústia do trabalhador que, apesar das mudanças, manteve uma rotina fatigante de trabalho durante a pandemia e, inclusive, noticiando a crise. Por outro lado, a repórter evidencia a blindagem e o aperfeiçoamento de um jornalismo que precisou combater as incertezas e a desconfiança que o período ocasionou.
“Essa dureza do trabalho, essa exposição durante a pandemia, essa vulnerabilidade na qual a nossa profissão é colocada são transversais […] como trabalhador, a gente precisa se pensar, precisa refletir e precisa, sobretudo, se ajudar e se compreender”.
Thaty reitera sobre a importância de olhar para si e para os que estão ao lado também, além de produzir jornalismo no pós-pandemia olhando mais para as fontes e o público, o que possibilitará certa resiliência e compreensão sobre o que foi vivido em coletividade.
Para finalizar a roda de conversa, o mediador Rafael Mesquita recapitulou de forma até orgulhosa que, apesar de um contexto que desafiou constantemente a função do jornalista e do jornalismo, a atuação de veículos como os representados na ocasião priorizou o interesse coletivo da luta contra uma crise de saúde, que afetou diversos outros campos.
Valorizando as reflexões oferecidas pelos colegas de mesa, Rafael destacou ainda a relevância do referido jornalismo posicionado e consciente e do olhar empático para o outro. Para ele, o futuro da atuação do repórter é coletivo e “seja qual tempo for, a gente está construindo essa realidade”, afirma o jornalista.
O 20º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e o 12º Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJor) seguem de 9 a 11 de novembro na Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza. Acompanhe a programação aqui.
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