Em entrevista, a jornalista e doutora Janaína Kalsing fala sobre a escrita da sua tese e a relação da plataformização do jornalismo com a precarização da profissão
Por Fernanda Filiú e Jonathan Ferreira Estudantes do 2° Semestre do Curso de Jornalismo da UFC
“A métrica (no jornalismo) é um caminho que me parece um tanto sem volta, ainda mais quando a gente está competindo com rede social, com todas as outras formas de comunicação que, não necessariamente, são jornalismo". A reflexão da pesquisadora Janaína Kalsing está em entrevista realizada durante a abertura do Encontro de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR), que ocorreu nesta terça-feira (9), em Fortaleza (CE).
Janaína Kalsing foi vencedora do Prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Doutorado (Foto: Gruppe/UFC)
Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação pela mesma instituição, Janaína pesquisa comunicação digital, com ênfases em rotinas laborais dos jornalistas e métricas de audiência. Resultado de seu trabalho, a tese intitulada “Jornalistas Metrificados e a Plataformização do Jornalismo” venceu a categoria "Doutorado", no Prêmio Adelmo Genro Filho 2022.
As métricas às quais a pesquisadora se refere são ferramentas que acompanham audiência e comportamento do consumidor de informações. Com este material em mãos, os jornalistas passam a produzir conteúdos que correspondam a estas demandas, que podem vir de redes sociais, do Google e até de softwares que trabalham exclusivamente com esta leitura de dados em tempo real.
Na entrevista, Kalsing fala sobre a escrita da tese, a relação da plataformização com o jornalismo e a influência das métricas para a definição de pautas.
Confira abaixo a íntegra da conversa:
Como você bem apresentou na sua tese, as métricas são importantes para pensarmos este jornalismo que vamos chamar de plataformizado. Como você acredita que o jornalismo pode lidar com o cenário em que a notícia está muito ligada às métricas?
Janaína: Quando a gente pensa neste jornalista “metrificado”, que é o termo que utilizo na tese, eu entendo como um caminho um pouco complexo. Neste momento, nas redações, os jornalistas vivem isso, essa chamada metrificação. Pelo que eu percebo, existe um movimento cada vez mais forte para isso. Agora, claro, uma das coisas que eu até falo na tese como uma espécie de recomendação, digamos assim, é sobre as redações conversarem um pouco mais com os seus profissionais, sabe?
Para entender o que isso gera no jornalismo e no jornalista. A métrica é um caminho que me parece um tanto sem volta, ainda mais quando a gente está competindo com rede social, com todas as outras formas de comunicação que, não necessariamente, são jornalismo.
Como você visualiza a diferenciação entre “interesse do público” e o “interesse por entretenimento”? Já que consideramos que as métricas influenciam na forma como o jornalismo vai ser produzido.
Janaína: Interesse público e interesse do público são duas coisas, realmente, bem distintas, mas as duas são importantes para o jornalismo e elas têm que caminhar lado a lado, no meu entendimento. Claro, o público muitas vezes diz o que ele quer e, de certa forma, a métrica mostra um pouco isso, mas é papel do jornalismo, e esse é um valor do jornalismo, compreender o interesse público e preocupar-se com questões macro.
Então, eu acredito também que o público vai sendo muito moldado, à medida que a gente vai entregando o conteúdo, eles vão recebendo. Nós temos que pensar um pouco, como jornalista, o que a gente quer entregar para esse nosso público.
A entrevista foi feita no primeiro dia da SBPJor 2022 (Foto: Gruppe/UFC)
Neste cenário, em que existe uma tentativa de atingir um maior público e seguir as mudanças de comportamento desse público, você acredita que a autonomia do jornalista está em risco?
Janaína: Olha, isso foi um dos achados da tese. O que acontece é que você tem ali um programa, um software instalado na máquina do seu computador, onde você redige seus textos, baixa suas fotos e consegue visualizar que o conteúdo está melhor performando, que está em primeiro lugar na audiência, e isso mexe muito com o jornalista. Então, se o software está te dizendo que aquilo ali está rendendo mais do que uma outra matéria, muito provavelmente, seu editor vai dizer “vamos investir mais nesse assunto”.
Nesse sentido, o jornalista talvez entenda que isso [a autonomia] não seja mais importante. Dessa maneira, dá para dizer que o jornalista acaba perdendo, sim, um pouco da sua autonomia pelos entendimentos dele mesmo do que são os valores do jornalismo, do que que é um valor-notícia. Então, podemos que as métricas põem em xeque a autonomia, sim.
O campo científico do jornalismo pode vir a ser uma ferramenta de mudança sobre o entendimento do futuro e da precarização da profissão?
Janaína: Claro! O jornalismo precisa ser entendido dentro desse campo maior. Quando a gente faz uma pesquisa, uma dissertação, uma tese, a gente trabalha, está produzindo ciência. A gente trabalha com dados, então, precisamos entender o jornalismo, os jornalistas e o trabalho dos jornalistas dentro desse campo maior, sim! É só com pesquisa, com dados, com informação que a gente consegue chegar a novos entendimentos.
A sociedade contemporânea está imersa num processo muito amplo de plataformas. Algo que a gente está tentando compreender ainda. É toda uma vida que está plataformizada: com Uber, redes sociais, aplicativos de relacionamento. Assim, entender o jornalismo, a profissão e os jornalistas dentro disso é super importante, porque, afinal, a gente está falando de um campo social muito importante dentro da nossa sociedade.
Neste ano, você foi vencedora do prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Doutorado, com sua tese “Jornalistas Metrificados e a plataformização do jornalismo”. Como foi o processo de pesquisa e escrita nos últimos anos?
Janaína: Em primeiro lugar, assim, eu estou muito contente, porque uma tese de doutorado é uma tese que demanda um esforço muito grande. É um peso, porque você não pode simplesmente reproduzir conhecimento. Você tem que produzir algum conhecimento novo e isso eu só consegui a partir de muita leitura, muito estudo, muita dedicação, muita entrevista também, trabalhando os dados encontrados em cima dessas conversas com jornalistas.
Então, eu me sinto muito contente de ver que esse trabalho de tantos anos. Quatro anos são tempo, inclusive, de gerar uma criança, e ela já está com 4 anos, é um filho. É bom saber que ele vai pro mundo agora, porque, tomara, que a pesquisa consiga inspirar outros estudantes como vocês, outros pesquisadores, e que a gente siga trabalhando esse tema que eu entendo como muito importante. Tem muita coisa, ainda, para ser pesquisada, porque a tese é só um recorte pequenininho, temos muitas coisas para ser deixadas pela frente ainda.
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