Exposição recupera memórias dos cursos de Comunicação da UFC
- Curso de Jornalismo
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Montada durante 24ª Semana de Comunicação (Secom), mostra no CH2, Benfica, homenageia o jornalista e professor Abdias Nascimento, ferrenho articulador de ações junto a movimentos negros
Texto: Ike Merlin
Fotos: João Rodrigues e Taís Lustosa
Edição: Taís Lustosa e Robson Braga

A 24ª Semana de Comunicação (Secom) da UFC inaugurou, na tarde da terça-feira, 11 de novembro, a sala temática “Exposição Abdias Nascimento: o Futuro nos Pertence”. O acervo reúne obras que vão de fotografias e pinturas a documentos impressos, trazendo à tona uma curadoria construída coletivamente que relembra a resistência do passado e aponta para as lutas traçadas no presente.
A atual edição da Secom, cujo tema é “Vozes Ancestrais: é Festa no Terreiro da Memória”, já havia recebido entre os dias 10 e 14 de novembro atividades que transitaram entre oficinas de produção e rodas de conversa, abarcando as modalidades visual, escrita e sonora voltadas à comunicação e à preservação de uma herança ancestral. A exposição surge, dessa forma, como uma experiência para a reflexão sobre a necessidade de preservar-se a memória, dos altos aos baixos, dos cursos de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará.
A exposição foi dividida em dois ambientes: na sala JOR-08, localizada no terceiro andar do bloco de Jornalismo, e no corredor do segundo andar do mesmo prédio, por meio de um mural de informes com colagens e fotografias de estudantes e egressos.
Tacyla Barbosa, estudante do quarto semestre de Jornalismo, foi a coordenadora da equipe de curadoria da exposição. Sendo ela uma das responsáveis pela Secretaria de Acessibilidade e Memória da Chapa Agô, antiga gestão do Centro Acadêmico Ivonete Maia (Caim), Tacyla teve acesso antecipado aos arquivos expostos devido à sua função dentro da entidade estudantil.
Através de um trabalho conduzido em conjunto, materiais de alunos, atas de posse, quadros pintados por calouros e antigos panfletos de calourada foram separados de forma descentralizada, costurando as múltiplas nuances da vida universitária entre as quatro paredes da sala.
"Tem coisas ali que a gente nem sabia que existia e que outras pessoas não sabem que existem”, afirma Tacyla ao falar sobre o processo de seleção das obras. “Será que daqui a alguns anos vai ter a galera vendo as nossas produções, sabe? A mesma sensação que a gente sente vendo as produções dos nossos professores, eles vão sentir com as nossas”, projeta.
Rômulo Costa, 32 anos, é jornalista egresso da Universidade Federal do Ceará e atualmente faz parte da equipe de comunicação da Ambiental Ceará. Estudante da turma de 2012 que se formou em 2016, Rômulo afirma que ficou surpreso ao se deparar com a exposição, pois "resgata a história do curso de comunicação, que é o mais antigo do Ceará, que tem 60 anos".
“Ao longo do tempo, um pouco dessa história ficou prejudicada pelo próprio contexto sociopolítico do país”, prossegue Rômulo, referindo-se aos momentos de tensão política vivenciados pelo corpo estudantil dentro do contexto universitário. “As universidades estavam sendo atacadas, a própria visão crítica, que é o cerne do curso da comunicação, estava sendo afrontada. Nesse contexto, é muito importante marcar posição política. E parte da estratégia de se marcar essa posição política é preservar a memória", detalha.
Abdias Nascimento
Nessa circunstância, surge Abdias Nascimento, nascido em Franca, no estado de São Paulo, em 14 de março de 1914. Ativista, político, artista plástico, poeta e professor universitário, sua história enquanto jornalista e ferrenho articulador de ações junto a movimentos negros foi o que motivou o grupo curador a concretizar uma homenagem por meio do título da exposição.
“Quando eu entrei na sala, eu já senti uma coisa muito especial", diz Cida de Sousa, 62 anos, ao relembrar as sensações que surgiram ao entrar em contato com o material exposto.
Cida é doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora da UFC, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem, possuindo, ainda, extenso histórico de trabalho com rádio e televisão.
Ao refletir sobre as sensações que surgiram entre o amarelamento inevitável dos papéis de atas, das revistas e dos antigos jornais, a professora destrincha os pensamentos articulados por Jacques Le Goff sobre história e memória.
"Não se trata só de conservar o passado, mas tem muito mais a ver com as emoções que esse passado provoca. A história faz essa relação entre passado, presente e futuro. São as memórias que ajudam a contar a história do nosso curso. O que fizeram naquela sala foi uma experiência viva da relação história-memória”, avalia.



































































