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Estudantes realizam intervenção artística no último dia da Secom

  • Curso de Jornalismo
  • há 2 horas
  • 6 min de leitura

Fim da 24ª Semana de Comunicação contou, ainda, com bate-papo sobre publicidade negra, oficinas de arte urbana e tirinhas, jogos e leitura de livro de Djamila Ribeiro


Texto: Kaio Pimentel

Fotos: Julia Evellin, Luane Sabrina e João Rodrigues

Edição: Taís Lustosa e Robson Braga


Grafites e pixos feitos por estudantes transformaram prédio do curso de Jornalismo da UFC, no CH2/Benfica / Foto: João Rodrigues
Grafites e pixos feitos por estudantes transformaram prédio do curso de Jornalismo da UFC, no CH2/Benfica / Foto: João Rodrigues

“Jornalista negro vivo” e “só sei amar em crioulo” são algumas das novas inscrições nos corredores do prédio de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Centro de Humanidades 2 (CH2), Benfica, sintetizando o último dia da 24ª Semana de Comunicação (Secom), realizada na última sexta-feira, 14 de novembro.


A intervenção que transformou o espaço do segundo e terceiro andares do prédio de jornalismo com grafites e pixos foi conduzida pelos artistas visuais Danos Murais, 20, estudante do 2º semestre de Jornalismo; Raabe (Blessed), 19, aluna do 2º semestre de Gestão de Políticas Públicas; e Mira, 21. O clima foi embalado por muito samba, pagode, hip-hop e músicas de religiões de matriz afro-brasileiro.


“Eu gosto muito de falar das vivências que eu e os meus poderíamos ter para além da dor, pensar no imaginário de um mundo que quero ver e usar as artes visuais como um poder pra colocar isso no mundo real”, destaca Danos, que atua há um ano e oito meses com intervenções urbanas.


Ele também ressaltou o caráter pioneiro do “Pinturaço”, como ficou intitulado, e citou artistas locais como referência, a exemplo de Berin, Amanda Nunes e Colagem Negra (Alexia Ferreira). Para o estudante, a ocupação consolida a presença da arte urbana dentro das instituições acadêmicas.


Já Blessed explicou que a produção dialoga com ancestralidade, espiritualidade, terreiro e cores, em sintonia com a proposta desta edição da Secom. Ela apresentou uma composição criada de maneira espontânea, resultado de seis anos de prática. 


A inspiração veio da música “Derreter & Suar”, de Melly, especialmente do trecho “Eu também quero poder ser fútil. Viver um dia inútil”. A obra mostra um rosto de cabelo black em tons de azul e amarelo, adornado por uma guia, um cordão dourado e quatro orelhas, marcadas pelos símbolos africanos Sankofa e Adinkra. Integrante do Centro Acadêmico (CA) do seu curso, Raabe afirmou que já há conversas para novas ações e exposições no prédio e acredita que essas iniciativas devem seguir avançando.


Entre as produções do público, apareceram espadas de São Jorge, rostos, orixás, frases, bandeiras e referências a artistas da MPB. Foi o caso de Rassanth, 23, aluna do 8º semestre de Português/Literatura, que pintou uma mulher ladeada por um pente-garfo, símbolo de autoestima, renovação e raízes. “Quando a gente termina, olha assim: 'Nossa, horrível!'. Mas, no fim das contas, faz sentido. Tem um pouquinho de você dentro da universidade. É também da escrevivência”, reflete. 



Copa Chica


Enquanto isso, em frente à Torrinha, ocorreu também a Copa Chica, com provas de stop, adivinhação musical, passa ou repassa e dança das cadeiras, sob organização da Associação Atlética Acadêmica de Comunicação Social (A.A.A Visionária). 


Três equipes competiram, e a vencedora foi “Dain (Inclusão)”, que alcançou 130 pontos. O nome veio em homenagem à lesão que Samir de Carvalho, 20, discente do 5º semestre de Jornalismo, sofreu, o que não impediu a coroação do time. Cada campeão ganhou uma barra de chocolate, e bombons foram distribuídos aos demais participantes.


“Eu estava desde manhã querendo um docinho [...] Foi muito massa, sempre um bom momento de descontração depois de um dia cansativo”, celebra Joyce Rodrigues, 20, aluna do 4º semestre de Jornalismo e uma das vencedoras.



Oficinas e rodas de conversa 


À tarde, ocorreu a oficina de tirinhas com Dhiovana Barroso (Dhiôw), 32, ilustradora há 12 anos e egressa da habilitação de Jornalismo, concluída em 2018. Para ela, a formação acadêmica aprimora a capacidade de síntese, fundamental para a comunicação e para o desenho.


Dhiôw explicou que as tiras nascem do cotidiano e de vivências próprias, com início, meio e fim, por meio de balão e requadro. “Portanto, não saber desenhar não é motivo. É possível”, incentiva.


A artista relaciona a trajetória ao fato de ser uma pessoa racializada, mote central da Secom. Tanto que produziu como Tema de Conclusão de Curso (TCC) o trabalho “Mulheres Negras e Quadrinhos”, discutindo a presença limitada em um campo historicamente dominado por homens brancos, cis e heterossexuais.


Tiago Silva, 20, estudante do 5º semestre de Jornalismo, produziu a primeira tirinha durante a oficina. O estudante escolheu ilustrar um episódio vivido horas antes: o erro ao programar o alarme para às 21 horas, quando pretendia acordar às 9 horas.


Ele afirmou ter chegado sem grandes expectativas, mas encontrou uma experiência rara no curso. Para Tiago, explorar outros formatos de comunicação amplia possibilidades expressivas e torna a informação mais leve.




Simultaneamente, ocorria a leitura do livro “Cartas Para Minha Avó”, da filósofa Djamila Ribeiro. A obra de 2021 é um relato íntimo, em que a escritora revisita a infância, refletindo sobre ancestralidade, antirracismo, feminismo e maternidade. A roda de conversa foi conduzida pelos estudantes e coordenadores do Grupo de Estudos Comunicação e Margens (Comargem): Geovana Lopes, discente do 4º semestre de Jornalismo, e Matheus Ramos, estudante do 7º semestre de Publicidade e Propaganda.


Imersa na discussão, Vitória Fernandes, 20, aluna do 3º semestre de Publicidade e Propaganda, contou que a leitura a levou a memórias marcadas por reflexão, saudade e afeto pela própria avó. “Ela apanhava quando era mais nova. Só que também nunca baixava a cabeça. Era uma mulher muito forte a enfrentar a violência. Depois que eu descobri isso, me fez ter muito mais admiração”, revela.



Pela manhã, houve ainda a palestra “Quem Fala Por Quem?”, ministrada pela ilustradora, designer e colagista Silvelena Gomes, 31, no Instituto de Cultura e Arte (ICA). Estudante do último semestre de Publicidade e Propaganda, ela provocou uma reflexão sobre o poder da representação publicitária preta e sobre como a ancestralidade pode operar como força de ruptura das estruturas de poder dominantes, abrindo caminho para novas narrativas e possibilidades de futuro.


“Foi uma honra participar e fazer esse encerramento como mais uma forma de reforço na minha construção de uma intelectualidade negra, ressaltando a importância não só da minha fala, mas exaltando saberes e vivências de muitas pessoas negras que partilharam seus conhecimentos”, agradece Silvelena.


A palestra permitiu com que a também aluna de Publicidade, Tatiane Lima, 25, pensasse sobre o lugar de pessoas pretas, a partir de sensibilidade e exemplificações cotidianas.


“Houve algumas falas que são foram bem marcantes pra mim, como quando ela disse que a única pessoa que vai reparar/buscar por uma pessoa negra em um ambiente, é outra pessoa negra. E também quando ela nos disse que uma pessoa negra pode e tem o espaço para falar, mas que isso não necessariamente precisa (sempre) estar associado à vivências sofridas”, conta a graduanda do 3° semestre.



Por fim, sob organização do Centro Acadêmico Ivonete Maia (Caim), a calourada “Sexcom”, no estacionamento do Centro de humanidades II (CH2), encerrou oficialmente a Semana – mas essa já é outra história.


Sentimento que fica


Ao fim de mais um Semana de Comunicação (Secom), estudantes, egressos e professores dos cursos de Comunicação da UFC destacam o esforço da organização, assim como a relevância do tema que circundou as discussões nas rodas de conversa, oficinas e atividades: “Vozes Ancestrais: É Festa no Terreiro da Memória!” 


“Teve uma temática diferente, de valorização da negritude, ainda muito ausente no curso de jornalismo. Foi muito bom, apesar dos percalços e da falta de recursos. A gente conseguiu fazer um evento muito legal”, destaca Joyce Rodrigues, também responsável pela comissão de logística e secretaria do evento.


Vitória Fernandes afirma que saiu com muitas reflexões, questionamentos, possibilidades e aberturas de portas nesse último dia. “Muito feliz pelos caminhos que se abrem para mais pessoas viverem isso também”, comemora.


Já Tiago Silva destacou que ficou surpreso e satisfeito com a Secom, fortalecendo o senso de comunidade, principalmente nos semestres iniciais, por meio de atividades incomuns no jornalismo.  Para o discente, foi um evento especial, sobretudo por coincidir com os 60 anos do curso. “Estão de parabéns”, congratula. 


O sentimento também é posto à mesa por Ana Vitória Lima, 23, aluna do 6º semestre e coordenadora-geral evento, no que se refere ao curso de Publicidade. Segundo ela, a proposta alcançou o objetivo e resgatou atividades como a conversa sobre negritude no cinema e a oficina de autocolagem realizada no Instituto.


“A gente conseguiu realmente atender o que a gente propôs no tema, trazer grupos de pessoas negras e indígenas. E assim pudéssemos mostrar que nós temos produção de conhecimento não só ligado às pautas de racialidade e território. O que eu espero é que sigamos nesses temas que fazem a gente repensar a sociedade, as pessoas e os nossos pensamentos. De onde a gente parte socialmente, o nosso papel e como tudo se constrói”, almeja. 


A mesma percepção é compartilhada por Lucas Matheus, 20, estudante do 5º semestre de Jornalismo e um dos coordenadores-gerais da Secom, ao avaliar que a edição ganhou força justamente por marcar o aniversário sexagenário do bacharelado e pela satisfação demonstrada por alunos, professores e convidados. Ele destaca o intenso trabalho de um ano de organização e o alívio pela conclusão. 


Para a edição seguinte, considera essencial que se mantenha a relevância social e a valorização da cena local de Fortaleza. “Espero que, na próxima Secom, eu sinta um pouco de inveja de terem superado a que organizamos”, desafia Lucas Matheus.



 
 

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