Produções audiovisuais movimentam penúltimo dia da Secom 2025
- Curso de Jornalismo
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Mostra “Não é Coisa de Momento” e rodas de discussões sobre memória e representatividade pautaram quarto dia da 24ª Semana de Comunicação da UFC
Texto: Camila Maia
Edição: Robson Braga e Taís Lustosa

Linguagens audiovisuais atravessaram o penúltimo dia da 24ª Semana de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), nesta quinta-feira (13), marcado pela continuidade da mostra “Não é Coisa de Momento: Exibir e Pertencer”. O Espaço Bergson Gurjão, na Reitoria da UFC, Benfica, reuniu produções de estudantes e egressos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, neste segundo dia de exibição. As temáticas das peças, que dialogam com o propósito da 24ª Secom, reafirmam a capacidade criativa que emerge das universidades e dos territórios de Fortaleza.
A sessão exibiu o documentário “Por uma Universidade Afro-Latino-Americana” (27 min), dirigido por Geo Lopes, estudante de Jornalismo e coordenadora do grupo de estudos Comunicação e Margens, além do curta “Marfim” (2 min). Após as projeções, o público acompanhou uma roda de conversa que reuniu, além da própria Geo, o educador e produtor cultural Caio Oliveira e a estudante de jornalismo Grasieler Martins, cuja trajetória tem se voltado para pesquisas sob uma perspectiva antirracista e decolonial.
Rodas de conversa
Dada a largada ao penúltimo dia da Secom, a programação do Instituto de Cultura e Arte (ICA), pela manhã, abriu espaço para um diálogo sobre “Forró de Favela: um debate sobre identidade e memória”, com Samuel Costa. A ocasião reuniu participantes para refletir sobre as raízes culturais do ritmo, suas disputas simbólicas e os processos de construção de memória que atravessam as periferias.
“Me remete à infância, me remete à família”, descreve André Luis, Lusb, estudante do segundo semestre de Publicidade e Propaganda, ao comentar o ritmo que marcou a conversa. Ao tocar em pontos “sensíveis” e “nostálgicos” de suas memórias, Lusb refletiu sobre como o forró de favela pode abrir novas leituras sobre problemáticas sociais presentes nas letras, especialmente no que diz respeito às desigualdades de classe.
Simultaneamente, a roda de conversa “Empreendedorismo e Estética Negra” discutiu como as mulheres negras movimentam capital no Brasil dentro do setor de empreendimentos. Mediadora do encontro, a empresária e publicitária Estelu compartilhou sua trajetória, do início como trancista na adolescência à retomada da prática na vida adulta com o propósito de consolidar o próprio negócio.
“O momento da oficina foi maravilhoso, pois abriu espaço para que outras mulheres, negras ou não, compartilhassem suas experiências no mercado empreendedor, sejam elas positivas ou negativas.” Assim avaliou Duda Rocha, estudante do 6º semestre de Publicidade e Propaganda, que também destacou como diferencial a forma com que Estelu relacionou os aprendizados da publicidade à sua própria vontade de empreender.
O espaço de debate e reflexão seguiu no Auditório Luiz de Gonzaga, no Benfica, com a roda de conversa “Do Documentário ao Filme: Produções Audiovisuais no Jornalismo”, abordada por três comunicadoras com experiência em diferentes vertentes da pesquisa acadêmica: Ed Borges, Luana Sampaio, Luiza Ester. Encontro, mediado pela discente no curso de Jornalismo, Geo Lopes, promoveu uma discussão sobre os caminhos narrativos do audiovisual, explorando como diferentes formatos se entrelaçam na construção de histórias e na ampliação das possibilidades de abordagem.
“O encontro me trouxe novas perspectivas e me inspirou a explorar novas possibilidades dentro do audiovisual”, relata a graduanda de Jornalismo Lorena Nantua ao revelar interesse pelo âmbito do áudio-vídeo. “É uma das minhas áreas favoritas na Comunicação e ter a oportunidade de escutar profissionais da área assim de pertinho foi muito especial”, acrescenta.
Sob três óticas atravessadas pela resistência das comunidades Moura Brasil e Curió, outra discussão de peso acontecia no auditório do Museu de Arte da UFC (Mauc), na roda de conversa “Anatomia de uma Exposição: Jornalismo e Curadoria”. O debate reuniu Débora Pompeu, fundadora do NUPAC e jornalista comunitária, Marcus Vinícius, pesquisador e coordenador da CasAvoa Museu Comunitário, Ismael Gutemberg, gestor do NUPAC e cria do Moura Brasil.
Em uma reflexão sobre como curadoria, jornalismo e memória comunitária se articulam para tensionar e enfrentar estigmas históricos, Ismael cravou a necessidade de ocupar museus tradicionalmente elitizados como forma de reforçar potência periférica e permitir que as comunidades contem a própria história.
Oficinas
Com um olhar voltado para as transformações do mercado na era das mídias digitais, as oficinas “Estratégias Digitais: criando comunidades e fortalecendo narrativas” e “Storytelling Estratégico”, ministradas pelos publicitários Vinni Teixeira e Diego Lucena, respectivamente, ultrapassaram o caráter prático e abriram espaço para discutir os rumos do trabalho na comunicação. Realizados no ICA, no campus do Pici, os encontros matinais reuniram estudantes de diferentes semestres para explorar desafios do campo da Publicidade.
“Mesmo trabalhando há bastante tempo com comunicação e publicidade, eu percebo como algumas coisas que parecem ‘óbvias’ para a gente não são para outras pessoas, e é exatamente por isso que oficinas como essa são tão importantes”, observa Diego Lucena. “Elas criam um espaço onde o ‘óbvio’ pode, e deve, ser dito, discutido, revisitado e transformado em aprendizado real”, reafirma o oficineiro.
Já Vinni Teixeira apontou a importância de utilizar as estratégias digitais para o “fortalecimento de narrativas” nas comunidades, bem como o proposito da Semana. Segundo ele, “enquanto profissional de marketing cultural, eu vejo que ainda tem um oceano azul de oportunidades, possibilidades criativas para promover grupos artísticos e a cena cultural aqui do estado do Ceará, da nossa cidade”.
Autointitulada “comunicadora margynal”, a artista Pretassa conduziu o momento paralelo de atividades com a oficina “As Ruas Faladas por Nós”, na qual a construção da escrita de slam abordou também o posicionamento histórico desse fazer artístico. O slam nasce em diálogo com culturas marginalizadas, como o funk, o rap e o hip-hop.
Cantora, educadora social e idealizadora do Atêlie Napahla, Pretassa reforça a necessidade urgente de discutir pautas sociais que permanecem “à margem da sociedade”. Mais do que qualquer técnica específica, a construção do canto e da prosa do slam permite que as artistas expressem “o que atravessa elas de certa forma nesse cotidiano que é caótico, que é capitalista, que, em certos momentos, também acaba esmagando os seus sonhos”, diz.
Seguindo com o foco no audiovisual, a secom promoveu a capacitação de roteirização para curtas, na atividade “Escrevendo Histórias” pela oficineira Luizete Vicente. Doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), ela também atua como escritora, roteirista e foi diretora do filme Os Cabelos de Yami.
Para além da criatividade, a comunicadora apresentou uma metodologia concisa para a profissionalização da escrita de roteiros. Para a estudante Jéssica Arruda do 6º semestre de Jornalismo, a ocasião permitiu uma exposição “esmiuçada” sobre produção de roteiros. Ela explicou que a professora apresentou padrões e modelos formais, inclusive usados no cinema, os quais ajudaram a compreender melhor o processo.
Em outra sala, um momento abordava uma dinâmica diferente, mas igualmente participativa: “No Fluxo das Ideias”, uma oficina sobre a prática do podcasting na visão do jornalista Rômulo Costa. Além da passagem no Sistema Verdes Mares, no Grupo de Comunicação O POVO e no valor econômico, a atuação de Rômulo no podcast Nossa Voz, da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) inspirou alunos como Luiz Lopes, do 3º semestre de Jornalismo. “Para a gente que tá buscando esse caminho é muito legal saber que também podemos chegar lá”, projeta aluno.
Pinturaço, jogos e exposição: último dia de Secom acontece nesta sexta (14)
A 24ª edição da Semana de Comunicação da UFC finaliza nesta sexta-feira (14). A programação, contudo, ainda reserva uma série de encontros para os estudantes de Jornalismo e Publicidade e Propaganda nos campi Benfica e Pici. Os destaques da vez vão para o pinturaço autorizado no 2º e 3º andar do Prédio de Jornalismo, previsto para as 14h, e o campeonato de carimba entre os cursos, a tradicional Copa Chica, na quadra do Céu, Benfica, a partir das 16h.
A exposição “Abdias Nascimento: O Futuro que Nos Pertence” também continua recebendo visitantes até o encerramento da semana solene aos 60 anos do curso de Jornalismo da federal do Ceará. Reunindo fotos, documentos e registros simbólicos, a mostra foi construída a partir do acervo do Centro Acadêmico Ivonete Maia (Caim) e propõe um resgate da trajetória e das ações de resistência da comunidade acadêmica.
Confira a programação do último dia de Secom:
Sexta-feira, 14 de novembro de 2025
8h – 10h
• Quem fala por quem? Publicidade, representação e ancestralidade / ICA/Pici
14h – 16h
• Memórias murais: pinturaço no prédio de Jornalismo — 2º e 3º andar, Prédio de Jornalismo / Benfica
• Copa Chica — Quadra Céu / CH2/Benfica
16h – 18h
• Ilustra aí: construção de tirinhas — JOR 01 / Curso de Jornalismo/Benfica
• Entre nós, o amor: leitura do livro “Cartas para minha vó”, de Djamila Ribeiro — JOR 03 / Curso de Jornalismo/Benfica

























































































