Estudantes e professores refletem sobre a importância da formação de jornalistas ontem e hoje
Por Julia Lima
2º semestre do Curso de Jornalismo da UFC
57 anos de história. O curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), completa, no dia 12 de novembro de 2022, mais um ano de existência. Não há nenhuma programação interna para a comemoração, mas o aniversário ocorrerá durante o 20º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), maior evento de pesquisa acadêmica em Jornalismo do Brasil. O congresso acontecerá na UFC, no Campus do Benfica, em Fortaleza.
As quase seis décadas do curso se iniciam em 1965. A Associação Cearense de Imprensa (ACI) promove um curso livre de Jornalismo que recebe grande procura. Antônio Martins Filho, fundador da UFC, convida a jornalista Adísia Sá a buscar referências de cursos formadores de jornalistas em outras Universidades, com a contribuição do então presidente da ACI, Antônio Carlos Campos. Nasce então o curso de Jornalismo da UFC.
A linha do tempo até os seus 50 anos de existência apresenta os principais acontecimentos do curso. Sua história é marcada por lutas, dificuldades e por muitas conquistas. Um caminho que conta com as greves por melhores condições, o reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação (MEC), o lançamento de revistas e jornais, a regulamentação da carreira de jornalista, entre outros momentos históricos do Jornalismo no Ceará.
Com relação de longa data com o curso de Jornalismo e participante de lutas e conquistas de sua história, Ronaldo Salgado foi professor do curso e também aluno, 11 anos após seu início, sendo estudante durante a Ditadura Militar. “Com o decorrer do tempo, assisti à implantação de reformas curriculares participando como professor de muitas delas, acompanhei aquisição de laboratórios e compras de equipamentos técnicos importantes e a transformação de salas de aula”, afirma.
Em meio às transformações estruturais e curriculares, o curso segue como referência na formação de jornalistas na nossa região. Esses profissionais atuam nas mais diversas áreas da comunicação, incluindo o Jornalismo web, impresso, televisivo e radiofônico, também na assessoria de imprensa, entre outros.
No último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), um dos indicadores de qualidade dos cursos de graduação, o curso teve nota 4,73, o que o credenciou entre os melhores do Brasil. Segundo o Painel de Indicadores da Graduação da UFC, desde 2013 o Curso formou 390 profissionais.
A professora Rosane Nunes coletou dados sobre o perfil dos estudantes de Jornalismo da UFC e da Universidade Federal do Cariri (UFCA), em uma pesquisa no período de 21/11/2021 a 24/12/2021. Do ponto de vista da renda familiar, Rosane mostra que dos 136 estudantes que responderam a pesquisa, 39,7% possuem renda de 1 mil a 3 mil reais. Quanto à identificação étnica, 47% se identificam como pretos ou pardos. Os dados apontam para uma heterogeneidade quanto aos estudantes do curso.
39,7% dos estudantes possuem renda de 1 mil a 3 mil reais. Quanto à identificação étnica, 47% se identificam como pretos ou pardos
Kamila Fernandes, atual coordenadora do curso, aponta que hoje há uma maior diversidade dos alunos, principalmente por conta da política de cotas. “Acho que isso faz com que essas realidades se cruzem e essa diversidade amplifica a qualidade do que os alunos conseguem produzir aqui. Vocês [estudantes] conseguem ter essas trocas com muita mais força, isso ajuda na formação de todo mundo”, afirma.
Kamila ainda acrescenta que esse é o maior diferencial do curso de Jornalismo da UFC. "Nós temos ótimos professores, ótimos! Mas não são os professores, não é a estrutura… São os estudantes", adiciona. E durante seus 57 anos de histórica existência, foram os estudantes do curso que fizeram muita coisa acontecer.
Estudantes são movidos pelo desejo de transformação
As mudanças no cenário social do país e da região, assim como as mudanças na estrutura do curso, alteram o perfil do seu corpo discente. Rafael Rodrigues, ex-coordenador do curso e professor adjunto, diz que o perfil desses estudantes mudou e vem mudando bastante. “O corpo discente sabe mais quem é, ele entra no curso sabendo mais quem é, do ponto de vista das suas identidades e crenças. Cada um de vocês [estudantes] entra sabendo quem é e o lugar que ocupa nessa história”, aponta.
E em um cenário incerto e precário para o Jornalismo, é importante que esses futuros profissionais acreditem na sua formação e no lugar que ocupam no cenário social. As comemorações dos 57 anos do curso acontecerão durante a SBPJor, que terá como tema “Entre crises e (re)construções: a pesquisa em Jornalismo 20 anos depois”. O encontro oferecerá palestras sobre o tema com pesquisadores e será a primeira vez que acontecerá na UFC.
O evento é uma oportunidade para relembrar e homenagear a história do curso como referência no estado, mas também para pensar nos desafios e percalços de ser jornalista atualmente. “Os ataques a profissionais jornalistas são intensos e de forma inadmissível. Censura, ataques pessoais a profissionais, ameaças claras e veladas para criar dificuldades em termos de liberdade de atuação”, afirma Ronaldo Salgado sobre os obstáculos do Jornalismo.
Com os desafios sofridos, o curso deve continuar desbravando fronteiras, como já faz por 57 anos. Rafael Rodrigues acredita que o jornalista deve, como categoria e como sujeito social, entender que ele ocupa um lugar histórico, político e ideológico também. “É preciso que a sociedade civil também se sensibilize, entenda que o Jornalismo é fundamental para as democracias, que o jornalismo é um antídoto contra as mortes”, aponta Rafael Rodrigues.
O reconhecimento da importância do jornalismo e o desejo de mudança também contemplam os estudantes do curso. Arthur Albano, aluno do primeiro semestre de Jornalismo, acredita que o jornalista deve ter muito estudo histórico e social, para que tenha um senso crítico apurado e que saiba utilizar isso no saber jornalístico. Raquel Aquino, aluna do oitavo semestre, quando questionada sobre o que a mantém no curso, afirma que “é muito bonito acreditar que a gente consegue mudar o mundo e prestar um serviço à população. O que me mantém no curso é achar que o Jornalismo pode melhorar para si mesmo, melhorar para os outros e os outros podem passar a reconsiderar o Jornalismo”.
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