top of page

Jamil Chade reflete sobre o papel do jornalismo na reconstrução democrática

  • Curso de Jornalismo
  • há 2 dias
  • 5 min de leitura

Na abertura do mês de aniversário de 60 anos do Curso de Jornalismo da UFC, o jornalista defendeu uma imprensa comprometida com a transformação social e criticou o distanciamento entre democracia e cidadania


Jornalista Jamil Chade durante conferência na UFC
Jornalista Jamil Chade durante conferência na programação de 60 anos do Curso de Jornalismo. Foto: Maria Timbó


Por Antonio Dauan, Bárbara Verônica, João Matos e Giovana Lameu (2º semestre do Curso de Jornalismo)

Revisado e editado por João Matos (2º semestre) e Rafael Rodrigues

Fotos por Maria Timbó (2º semestre) e Taís Lustosa (4º semestre)


O jornalista Jamil Chade abriu o mês de atividades alusivas aos 60 anos do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) em conferência realizada no auditório Rachel de Queiroz, em Fortaleza, na última segunda-feira (20 de outubro). Em meio a professores, estudantes e profissionais da comunicação, o correspondente, aclamado por sua cobertura em política internacional, direitos humanos e meio ambiente, ofereceu uma imersão nas experiências de sua carreira.


Chade reafirmou o jornalismo como uma ferramenta essencial de responsabilidade pública e compromisso inegociável com a verdade, abordando o papel do profissional em um mundo cada vez mais complexo e polarizado. O evento também teve a participação da deputada federal Luizianne Lins (PT) por meio de vídeo gravado.


Colaborador de diversos veículos como correspondente internacional e colunista, Jamil Chade destacou em sua conferência como o jornalismo é uma profissão essencial à manutenção da democracia. Para ele, porém, o Brasil ainda precisa dar conta de suas muitas desigualdades para atingir a condição de nação verdadeiramente democrática.


"Que democracia é essa que tem apenas uma mulher na Corte Suprema do país?"

— ressaltou o jornalista, levantando que o Brasil ainda não alcançou uma plena democracia, a exemplo da desigualdade de gênero no país.


"A fragilidade do jornalismo é a fragilidade da própria sociedade", respondeu Jamil a uma pergunta da plateia sobre o papel ético e profissional da profissão. O correspondente internacional ainda ressaltou uma das maiores fraquezas que ele observa no jornalismo: o caráter econômico. Enquanto as instituições jornalísticas enfrentam desafios para se sustentar financeiramente, a sociedade tem dificuldades para compreender o valor das informações produzidas pelo jornalismo, ao mesmo tempo em que qualquer pessoa pode, com um smartphone, produzir informações sem maior critério ou procedência.


Fascismo nos EUA é tema de livro lançado por Chade


Ao ser perguntado sobre o autoritarismo nos Estados Unidos, Jamil denuncia uma certa ingenuidade da população americana que não acompanha as movimentações políticas do país, visto que não precisou lutar pelos seus direitos. Ele ilustra essa ideia com uma anedota sobre dois jornalistas. O primeiro, americano, pergunta: “Professor, o senhor acha mesmo que existe o risco de um regime autoritário se instalar nos Estados Unidos?” Em seguida, um jornalista latino-americano faz outra pergunta: “Professor, quanto tempo o senhor acha que esse regime autoritário vai durar?” O auditório riu, mas Jamil destaca que a reação revela falta de percepção sobre a gravidade do tema. E conclui: “Viva nós, que já passamos por isso várias vezes e sabemos reconhecer os sinais.”


"Aí eu falei, eles vão ser atropelados. Eles vão nem saber qual é a placa do caminhão que colocou eles. Mas isso vem de uma sociedade que realmente nunca enfrentou, pelo menos na classe branca média-alta, nenhuma ameaça. Óbvio que os negros americanos lutaram permanentemente por direitos, até hoje"

— destacou o jornalista.


A conferência de Jamil Chade teve a mediação da professora Helena Martins (PPGCOM-UFC e Andes-SN) e apoio do projeto de extensão Simulação das Nações Unidas (SONU-UFC). A vinda de Jamil a Fortaleza foi viabilizada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN).


A galeria traz imagens do evento com Jamil Chade, com fotografias de autoria de Maria Timbó e Taís Lustosa. Há imagens da mesa onde Jamil fez sua fala, acompanhado da mediadora Helena Martins, e do público


No desdobramento das atividades realizadas em sua vinda à capital cearense, Jamil Chade ainda gravou um episódio do podcast de política As Cunhãs. Também apresentou seu novo livro, "Tomara que você seja deportado". O lançamento, ocorrido no dia seguinte na sede da ADUFC-Sindicato, lotou o auditório.


A obra que narra a experiência do jornalista nos Estados Unidos foi recebida pelo público cearense como um relato jornalístico afiado da distopia americana e um alerta de alcance global. As crônicas de Chade, que denunciam a escalada da intolerância e do autoritarismo na era Trump, repercutiram profundamente na plateia, gerando um debate sobre imigração, desumanização e a ameaça global à democracia. O próprio Jamil Chade fez questão de agradecer publicamente ao Nordeste por sua histórica resistência e papel essencial na defesa da democracia brasileira.


Assim, a obra se consolida como um documento que transcende a experiência pessoal, firmando-se como uma extensão prática do debate sobre os desafios da comunicação no mundo. O livro reforça a mensagem central da celebração do curso de Jornalismo: a vigilância democrática é um compromisso que ultrapassa fronteiras. Ao trazer suas vivências e análises de contextos internacionais, Jamil Chade deixou um recado incisivo ao público: a luta contra o autoritarismo e a desinformação, que conecta a crise de Gaza à política americana, exige um jornalismo de qualidade e uma cidadania incansável.


As fotografias de autoria de Taís Lustosa mostram momentos do evento: plateia, voluntários e estudantes do Curso posando ao lado de Jamil, detalhe de autógrafo do livro do jornalista e os cerimonialistas Lorena Nantua e Bernardo Maciel


Luizianne Lins fala sobre responsabilidade do jornalismo e missão humanitária em Gaza


A deputada federal Luizianne Lins (PT), egressa e professora licenciada do Curso de Jornalismo, contribuiu para o debate por meio de um vídeo, ressaltando seu orgulho pela trajetória na UFC e enfatizando a importância do jornalismo na manutenção da democracia.


Em sua fala, Luizianne acrescentou à discussão a tríade tecnologia, ética e a missão humanitária que integrou rumo à Palestina. A parlamentar utilizou sua experiência como observadora internacional da Global Sumud Flotilla — representando o parlamento brasileiro — para ilustrar a atuação nefasta dos algoritmos e das redes de desinformação. A missão reunia cerca de 50 embarcações e 500 pessoas, incluindo médicos, ativistas e jornalistas de mais de 40 países, com o objetivo de furar o cerco ilegal contra a Faixa de Gaza.


Luizianne Lins expôs como a tecnologia é instrumentalizada para fins políticos: ela pôde ver como as redes de desinformação potencializadas por interesses políticos e algoritmos tentam criminalizar a solidariedade e apagar o caráter humanitário da ação. A deputada deu um tom enfático sobre a crise, afirmando: “falar sobre Gaza nesse momento é falar sobre a dor do mundo, sobre vidas humanas que estão sendo esmagadas pela guerra, pela fome e pelo bloqueio ilegal de Israel”.


A parlamentar também detalhou a experiência da interceptação violenta da missão: apesar de navegarem em águas internacionais, amparados pelo direito de livre navegação, a flotilha foi abordada pelo exército e marinha israelenses, com uso de drones, jatos d’água e abordagens armadas. Detida junto a outros brasileiros e levada para um presídio de segurança máxima no deserto de Nejev, Luizianne permaneceu seis dias em condições difíceis, recusando-se a assinar documentos de deportação para não assumir um crime que não cometeu, em um gesto de responsabilidade com seus companheiros.


Para ver na íntegra o relato emocionado de Luizianne Lins sobre a missão e a importância do jornalismo na luta contra a desinformação, confira o vídeo a seguir:



 
 

© 2025 Curso de Jornalismo da UFC
Este site funciona melhor em computadores e notebooks
Criado com Wix.com

Avenida da Universidade, 2762, Benfica, Fortaleza - Ceará CEP 60020-180 

  • Facebook Black Round
  • Instagram Black Round

+55 85 3366.7710   |   coordenacaojornalismo@ufc.br

ica ufc colorido p ok.png
bottom of page