Este texto integra a terceira edição da newsletter Eu, Você e Nós, produção da disciplina Transformações no Mundo do Trabalho dos Jornalistas, ministrada em 2022.2 pela professora Naiana Rodrigues, com apoio da estagiária de docência Lorena Marcello (PPGCOM-UFC)
O filme Intrigas de Estado (State of Play) aborda a investigação jornalística de Cal McAffrey (Russell Crowe, foto) e Della Frye (Rachel McAdams) para The Washington Globe sobre a trágica morte de Sonia Baker, assistente de um congressista em evidência Stephen Collins (Ben Affleck). A obra, que chegou às telas de cinema em 2009, é baseada em uma série de seis episódios da BBC, exibida em 2003.
Dentre as questões apresentadas no filme, a primeira a ser citada é a amizade entre Cal e Stephen, já que o envolvimento com a fonte gera um problema ético no caso. A relação acaba prejudicando a separação entre o lado pessoal e profissional durante a investigação.
O embate entre impresso e online também é debatido durante a obra. Ao contrário de Cal, que parece ser a referência de um jornalista típico (mais maduro, não muito adepto às tecnologias, com aptidão para a investigação), sua colega Della é inexperiente e se conforma com o objetivo capitalista do jornal. Assim, discussões são comuns entre a dupla. Outro ponto posto em cheque são os conglomerados da mídia, o Washington Globe faz parte de uma corporação com foco em lucrar, como equilibrar o jornalismo de relevância e o jornalismo como mercadoria?
As especulações pareceram logo no início da investigação, como uma relação amorosa entre a Sonia Baker e Stephen Collins ou o caso se tratar de suicídio. Mas o fato é que haviam poucas informações sobre o caso e esses levantamentos tinham um cunho mais sensacionalista do que investigativo. Foi abordada ainda a linha tênue entre jornalismo investigativo e investigação policial, qual seria o limite? Escolher ter certeza das informações ou o furo acima de tudo?
Todas essas discussões são muito pertinentes nos dias de hoje, apesar de ser uma obra fictícia, o desenrolar da história é muito bem estruturado e tem muitas ligações com o real.
Romantização do trabalho jornalístico
Acompanhar em um filme a ação de profissionais que temos contato todos os dias, seja pela televisão, podcast ou jornais é, de fato, emocionante. São heróis plausíveis e de fácil identificação por parte do espectador. Entretanto, na vida real não há a proteção do escudo do roteiro cinematográfico e essa 'heroificação' pode se transformar em um tiro no pé do trabalhador da imprensa.
Isso porque, essa representação do jornalista como um investigador, quase um detetive do cotidiano, que é capaz de qualquer coisa para disseminar a verdade, pode levar o trabalhador a aceitar as dificuldades do mercado de trabalho (baixa remuneração, longas jornadas, assédio moral, situações de risco), de forma passiva. Afinal, ele está fazendo um bem para a sociedade, AMA sua profissão, então pode aceitar algumas inconveniências, né?
Em resumo, quando surgisse uma indagação das condições de trabalho por parte dos jornalistas, seria acompanhado do sentimento de traição, ou de culpa, como se estivessem indo contra sua própria vocação. Fora a sensação de estar prestes a ser demitido e, consequentemente, colocar não apenas seu futuro, mas (e aí entra a heroificação) o da nação em jogo, por correr o risco de ser substituído por alguém menos qualificado.
Em filmes como Intrigas de Estado, não é representado em nenhum momento um personagem sequer questionando o fato de estar trabalhando fora do horário ou arriscando sua vida. Não seria necessário mudar toda a estrutura do filme, mas a presença da indagação seria importante para que o público tivesse noção de que há algo de errado naquelas relações trabalhistas.
Exploração sofrida pelos jornalistas
Durante todo o filme, a chefe do Cal no Washington Globe, Cameron Lynne (Helen Mirren), está sempre recebendo reclamações dos donos, que querem mais resultados nas vendas. Por isso, ficam vários questionamentos: até quando segurar uma matéria que ainda não foi totalmente investigada, mesmo sofrendo pressão dos proprietários do jornal? Assim, ela faz uma ponte entre a redação e o topo da hierarquia da empresa, tentando conciliar interesses.
Além disso, em uma de suas falas, quando se refere à Della, afirma que “ela é ambiciosa, custa pouco e produz uma matéria por hora”. Nessa frase, pode-se perceber a tendência de exploração do trabalhador do mundo do jornalismo, em que o profissional bom para empresa é sempre aquele que consegue produzir muitas notícias e tem um salário baixo. Dessa forma, tem-se uma precarização enorme do trabalho dos jornalistas.
Hoje x antigamente
No longa, o espectador acompanha o processo de apuração do protagonista desde as primeiras informações, colhidas ainda na rua e através de fontes "secretas", até a extensa pesquisa na redação.
Algumas dessas práticas seriam difíceis se o jornalista atuasse nos veículos midiáticos atuais. Na contramão de uma apuração aprofundada, muitas vezes a imprensa tem obtido informações sem sequer sair da redação, utilizando a internet e as redes sociais. Notícias, que normalmente demorariam horas até serem apuradas e publicadas, saem a cada minuto em sites e portais.
A praticidade pode até facilitar a produção em massa de matérias, mas arrisca a credibilidade do jornalismo ao focar na quantidade, e não na qualidade.
Ficha técnica
Título original: State of Play
Elenco principal: Russell Crowe (Cal McAffrey), Helen Mirren (Cameron Lynne), Rachel McAdams (Della Frye), Ben Affleck (Stephen Collins)
Diretor: Kevin Macdonald
Roteiristas: Tony Gilroy, Matthew Michael Carnahan e Billy Ray
Gênero: Suspense/drama
Duração: 127 minutos
País: Reino Unido, França e Estados Unidos
Idioma: Inglês
Ano: 2009
Olá! Recentemente comecei a jogar Fortune Tiger https://fortune-tigers.com.br e estou absolutamente encantado! Os gráficos são vibrantes e as animações são de alta qualidade, o que torna cada rodada muito emocionante. A temática do tigre da sorte é incrível e realmente me prende. Adoro os recursos bônus que aparecem durante o jogo, pois eles aumentam ainda mais a emoção. Estou ansioso para ver quais prêmios posso conquistar!