Este texto integra a segunda edição da newsletter Eu, Você e Nós, produção da disciplina Transformações no Mundo do Trabalho dos Jornalistas, ministrada em 2022.2 pela professora Naiana Rodrigues, com apoio da estagiária de docência Lorena Marcello (PPGCOM-UFC).
O cenário precarizado da vida laboral dos jornalistas brasileiros não é novidade para ninguém. Diante das inúmeras mudanças enfrentadas na contemporaneidade, pode-se concluir que o estado físico e mental dos jornalistas está intrinsecamente ligado ao modelo de trabalho atual, onde é notável que grande parte dos profissionais se veem praticamente obrigados a abdicar da própria saúde a fim de atender aos interesses das organizações.
Essa progressiva deterioração da qualidade de vida no trabalho advém de uma reestruturação na rotina e práticas profissionais relativas ao jornalismo de mercado, além da naturalização do profissional frustrado e desgastado pelo ofício. Jornadas extenuantes, acúmulo de funções, aceleração da produtividade, vínculo empregatício frágil e remuneração insatisfatória são somente alguns dos aspectos responsáveis por esse adoecimento entre os profissionais da categoria.
Todas essas informações estão representadas na pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro 2021”, que é uma análise coletiva liderada pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro/UFSC) e articulada nacionalmente pela Rede de Estudos sobre Trabalho e Identidade Jornalística (RETIJ), da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).
O objetivo da pesquisa foi analisar trajetórias para levantar dados quantitativos que permitissem comparar as mudanças dos indivíduos em meio às transformações e das continuidades no ambiente de trabalho para jornalistas no Brasil.
O relatório final é baseado em 6.650 respostas, sendo 6.594 vindas de todos os estados do país e 56 de jornalistas que atuam no exterior, segundo o próprio site do Perfil do Jornalista da UFSC.
De acordo com o estudo, as mulheres ainda são maioria dentro do jornalismo com 58% de representatividade na amostra, sendo elas 64,4% brancas e 53% solteiras. Esse perfil não mudou muito em relação à mesma pesquisa em 2012, mas a participação feminina reduziu em seis pontos, em relação à pesquisa anterior.
Para esta pesquisa, publicada em 2013, os pesquisadores Jacques Mick e Samuel Lima, da UFSC, receberam respostas de 4.216 jornalistas. Em 2017, para uma nova pesquisa, Mick e Lima convidaram novamente os mais de 4 mil profissionais da comunicação, mas apenas 1.233 responderam novamente ao inquérito acerca de suas trajetórias profissionais.
Dentre 1.233 jornalistas, de 1.090 a 1.098 responderam as questões sobre doenças laborais e, de forma geral: 57,2% se sentem estressados; 36,7% foram diagnosticados com estresse; 24,3% foram diagnosticados com LER/DORT; 15,8% declararam ter transtorno mental relacionado ao trabalho e 26% receberam indicação médica para tomar antidepressivos. Os dados da análise também revelam que as jornalistas mulheres sofrem mais com as doenças aqui estudadas do que os homens, devido às condições mais precárias, aos menores salários e às dificuldades de acesso a benefícios.
Uma constatação relevante foi o da dificuldade dos profissionais de desvincular a vida do trabalho da vida familiar, o que explica muitos dados sobre as doenças, além de explicar questões apresentadas na pesquisa, como a intensificação do trabalho, a extensão da jornada e a falta de trabalhadores para dividir as tarefas.
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