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Abertura da Sejor debate anticapacitismo no jornalismo

Primeiro dia da Semana de Jornalismo contou com a socióloga Eudenia Magalhães, o jornalista Victor Vasconcelos e o professor Henrique Beltrão, além de oficina de audiodescrição com o pedagogo Davi Cândido


Por Carolina Galvão*


Victor Vasconcelos participou virtualmente da mesa, que também contou com Kamila Fernandes, Henrique Beltrão e Eudenia Magalhães / Foto: Guilherme Siqueira


Nesta segunda-feira, 3 de abril, foi dado início à 13ª edição da Semana de Jornalismo (Sejor), evento organizado pelo Programa de Educação Tutorial de Comunicação (PETCom) da Universidade Federal do Ceará (UFC), com o tema “Caminhos para um Jornalismo Inclusivo” como pauta central de discussão. No momento de abertura, questões sobre acessibilidade, invenção da normatividade, mercado de trabalho e inclusão de corpos foram trazidas à tona.


Com mediação da professora do curso de Jornalismo Kamila Bossato, o encontro teve como componentes da mesa Eudênia Magalhães, doutora em sociologia e integrante do Comitê de Deficiência e Acessibilidade (CODEA-ABA); Victor Vasconcelos, jornalista, ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce) e criador do blog Sem Barreiras; e Henrique Beltrão, poeta, radialista e professor de Letras na UFC.


Eudênia iniciou a discussão apresentando as origens antropológicas do termo “capacitismo”, trazendo uma perspectiva mais acadêmico-teórica sobre a abordagem existente em torno de corpos com deficiência. A pesquisadora pontuou que uma das formas com a qual nossa sociedade manifesta seu capacitismo é colocando a deficiência como ponto de partida para a vida daquele indivíduo, centralizando toda a sua existência nesse único elemento. A existência de um certo fascínio pelas ideias de “superação” e “coragem” é um dos principais fatores que levam a esse comportamento.


“O campo da sociologia trouxe a perspectiva da deficiência para o campo social, ou seja, a deficiência em si também é um produto de uma sociedade que não foi preparada para aceitar aquele corpo que não se adequa ao que é tido como normal”, contextualizou Eudênia.


Em um segundo momento, dada a palavra a Victor Vasconcelos, o debate passa a abordar também temas práticos da carreira jornalística. Ele, nascido com osteogênese imperfeita e formado em Comunicação Social pela UFC em julho de 2000, compartilhou sua experiência em um mercado de trabalho despreparado para receber pessoas com mobilidade reduzida.


Além do mercado em Fortaleza ser extremamente reduzido, o capacitismo era ainda mais forte na época em que Victor se formou, trazendo consigo obstáculos de diversas naturezas. O acesso às redações era extremamente limitado e as barreiras, sobretudo físicas, sempre existiram. Como exemplo, ele cita que, na época, para adentrar qualquer uma das salas de redação de um dos principais veículos de comunicação do estado e também um dos maiores expoentes de oportunidade em redação para jornalistas recém-formados, como era o caso de Victor, seria preciso subir diversos lances de escada. Não havia rampas de acesso, tampouco elevadores que possibilitassem a mobilidade no local.


Por esse e outros fatores, Victor conta que sua experiência em redações foi extremamente reduzida, resumindo-se a uma breve atuação na área de assessoria, que, logo cedo, foi deixada de lado para assumir o cargo de diretor do Sindjorce.


Abordando outros caminhos possíveis dentro do jornalismo, Victor dá destaque à questão das aparências dentro do jornalismo televisivo e comenta sobre não se lembrar de um dia ter visto um exemplo de apresentador cadeirante na TV. Diante desse contexto, a necessidade de pautas referentes a pessoas com deficiência na imprensa local foi um dos motivos que o levou a criar o site Sem Barreiras, um espaço de discussão e debate dos direitos sociais, com ênfase na pessoa com deficiência. "Iria juntar dois temas do meu domínio: a deficiência e o jornalismo", sintetiza Victor.


Já Henrique Beltrão encerrou a mesa apresentando seu projeto de extensão “A Essência de Todos os Sentidos”, um programa da rádio Universitária FM criado em 2003, pautado na investigação da história de vida e dos afetos de pessoas com deficiência, sendo posteriormente ampliado para abordar temas como bem-estar, práticas meditativas e saúde mental e física. O programa se baseia em uma estrutura temática com diversas entrevistas – conduzidas pelo próprio Henrique, ao lado da equipe de bolsistas – que são intercaladas com poemas, músicas e citações relacionadas ao tema previamente escolhido.


O programa vai ao ar todas às quarta-feiras, às 14h, no site da Rádio Universitária FM 107,9.


Oficina de audiodescrição


Após a mesa de abertura, teve início, às 16h, uma oficina de Audiodescrição com o pedagogo e técnico em assuntos educacionais da secretaria de Acessibilidade (UFC Inclui), Davi Cândido. Durante a atividade, o ministrante conversou com estudantes do curso de jornalismo da UFC sobre métodos de tradução de imagens em palavras, para que pessoas cegas e com baixa visão possam ter acesso ao seu conteúdo de forma plena.



Oficina com Davi Cândido ocorreu no laboratório de informática do curso de Jornalismo / Foto: Guilherme Siqueira


*Carolina Galvão é estudante do curso de Jornalismo da UFC e bolsista do Programa de Educação Tutorial dos cursos de Comunicação da UFC, o PETCom. Edição: Robson Braga


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