PERFIL | O menino que chegou assustado
- Lucas Matheus
- há 16 horas
- 4 min de leitura
Atualizado: há 7 horas
Nesta primeira publicação do projeto Percursos 60 Anos, o curso de Jornalismo da UFC traz um pouco da história do jornalista e mestre em Comunicação William Santos, de 31 anos, instigado desde sempre pelas coisas do mundo e de sua profissão
Por Lucas Matheus

O apresentador, editor e repórter William da Silva Santos já “gostava muito de comunicação” mesmo quando sequer sabia direito “o que era comunicação”. Em leitura de textos, poesias, avisos e até para ser orador de turma, era uníssona a frase entre seus colegas: “O William vai, o William vai”.
Em paralelo, um pensamento sempre tomava conta dele, instigando-o enquanto assistia à TV: como é estar por trás disso? Uma pergunta que seria respondida anos depois.
Foi no ensino médio que começou a pesquisar mais sobre cursos de graduação e encontrou Jornalismo. As disciplinas faziam seus olhos brilharem, o que lhe deu a certeza de que estava no curso certo.
Em 2010, a Universidade Federal do Ceará (UFC) passou a adotar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma central de ingresso em seus cursos de graduação. O garoto estudava por meio de programas de rádio, os quais eram feitos por professores de escolas particulares e davam dicas sobre o vestibular. Prestou o Enem. E foi aprovado na Federal.
Ao contrário de seus colegas, William nunca foi perseguido pela dúvida sobre o curso. Sua certeza sobre estar no lugar certo apenas foi aumentando ao longo da graduação, durante a qual passou por projetos como a Simulação da Organização das Nações Unidas (Sonu), a Liga Experimental de Comunicação e o Programa de Educação Tutorial dos Cursos de Comunicação (PETCom).
Contudo, embora feliz por todas as experiências vividas, logo de primeira, ele ficou assustado ao deparar-se com tantas realidades e pessoas diferentes.
Embora hoje a política seja algo presente em sua vida – tendo apresentado o quadro É tudo política, no CETV 1ª Edição, da TV Verdes Mares; e sido o editor de Política do Diário do Nordeste –, nem sempre foi assim.
O jornalista ingressou no mercado de trabalho como estagiário na TV Jangadeiro, em Fortaleza, na condição de assistente de produção no programa jornalístico semanal Câmera 12, em março de 2013.
Já em outubro de 2013, migrou para a redação do jornal Diário do Nordeste, no antigo caderno Vida. Ali tratava de pautas relacionadas à saúde e ao bem-estar, contando histórias mais longas e trazendo personagens em seus textos.
Ao se formar, contudo, não havia vaga para a sua editoria ou para qualquer outra do jornal. A crise não vivenciada durante a graduação apareceu naquele momento.
“Meu Deus do céu, eu preciso trabalhar. Meu Deus do céu, eu estudei, me dediquei”, pensou William. “É isso que eu quero fazer e não tenho a oportunidade, não tenho a vaga. O que é que eu faço?”, perguntou-se.
Nos três meses seguintes, teve como companheiros a ansiedade e o medo de não conseguir um emprego. Até que surge uma seleção para uma vaga na editoria de nacional e internacional do jornal Diário do Nordeste, absorvendo o recém-formado jornalista.
De 2015 a 2018, William segue no impresso, escrevendo algumas matérias para o site. Nada de muito novo. Até que, às vésperas das Eleições 2018, a redação do jornal passa por uma mudança, precisando ele escrever em diversos formatos, como os do telejornalismo, uma área explorada por ele desde a faculdade por meio do PETV, projeto de práticas audiovisuais do PETCom da UFC.
Apesar de certa dose de incerteza, empolgou-se com o novo desafio profissional, num momento em que apenas o impresso já não era o suficiente para ele. “Eu queria também fazer outras coisas que me instigassem profissionalmente”, relembra.
A mudança foi em dose dupla. Em 2018, ele deu início a outro projeto de sua vida, o mestrado em Comunicação, que teve de conciliar com seu trabalho. “Eu saí da universidade pensando em voltar para a universidade”. E assim o fez. Em 2017, ele sentia que apenas o mercado não lhe era suficientemente instigante, seguindo no ramo de pesquisa em Comunicação, na linha de pesquisa Mídias e Práticas Socioculturais.
Foi nesse período que William precisou reconhecer seus limites e adaptar o seu perfil de “onde quer que eu esteja, vou me dedicar ao máximo ao que eu estou fazendo”. Percebeu que não poderia mergulhar tanto no universo acadêmico quanto gostaria – algo frustrante, mas necessário naquele momento.
Ele passou por uma graduação, desemprego, mudanças no jornal e mestrado de um jeito: acompanhado. O jornalista chegou à universidade como um “menino assustado”, achava que seria apenas estudar como no ensino médio. Nathanael, Roberta e até sua orientadora de mestrado, Márcia Vidal, foram algumas das pessoas nessa rede de apoio.
Desde menino, apegou-se à educação como um caminho para a transformação de sua vida, da mãe e da família. E ele não conseguiria fazer isso sozinho. Toda essa rede ajudou-o a entender isso. “Hoje eu não estou na universidade. E levo muito daqui comigo. Nos encontros e nos reencontros. Eu acho que isso é muito, muito massa”, avalia William com um sorriso no rosto ao lembrar dos amigos.
Ao final da entrevista, o menino – não mais assustado, mas ainda com uma alegria de menino – revela sua vontade de voltar mais uma vez para a universidade e realizar seu doutorado por um motivo “bem guardadinho no coração”: virar professor e reformular sua missão: dessa vez, de instigar as pessoas.
