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Espaços percorridos

A origem, a trajetória e os lugares que o curso de Jornalismo da UFC percorreu desde 1965, quando foi fundado, até os dias atuais; bacharelado completa 59 anos em 12 de novembro de 2024


Por Rafael Santana*


Aulas de Jornalismo ocorreram na Faculdade de Farmácia e Odontologia, localizada à época na rua Barão do Rio Branco, no Centro de Fortaleza, de 1966 a 1967 (de modo provisório) e de 1968 a 1975 (de modo permanente) / Imagem da década de 60 / Acervo do Memorial da UFC

O ano era 1965. Surgia, então, na capital cearense, o primeiro curso de Jornalismo do estado, vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC). Desde então, durante as últimas cinco décadas, o curso de Jornalismo da UFC vem sendo marcado por lutas e conquistas, deixando sua marca e suas histórias nos lugares por onde passou e nos profissionais formados ao longo desses quase 59 anos de funcionamento.


Para falar desses espaços, é preciso primeiramente entender a origem de tudo. Vamos voltar a 1918, ano em que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) realizou o 1º Congresso Brasileiro de Jornalismo.


Esse evento teve grande importância para a consolidação da profissão no país e para a discussão de pautas como ética no jornalismo, liberdade de imprensa e, como temática principal, a criação de uma Escola de Jornalismo.


Apesar de a proposta ter sido recebida com entusiasmo pelos congressistas, a ABI não criou sua escola. Contudo, a semente tinha sido plantada, e coube a Anísio Teixeira a iniciativa de criação do primeiro curso superior de Jornalismo no Brasil, na então Universidade do Distrito Federal (Rio de Janeiro), em 1935, infelizmente sem continuidade.


Foi então que outros cursos de Jornalismo foram surgindo em vários estados brasileiros, e, até o fim da década de 1950, outros sete já haviam sido criados. Esse número cresce ainda mais na década de 1960, período em que o curso surge na Universidade Federal do Ceará, tornando-se o primeiro do nosso estado.


Essa realização tem início em 1964, quando a diretoria da Associação Cearense de Imprensa (ACI) recebeu uma proposta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará para a realização de cursos livres de jornalismo.


A ideia foi aprovada com a disponibilização das dependências da Associação para sediar as aulas. O primeiro curso de “Jornalismo para Principiantes” ocorreu no mesmo ano e contou com 150 candidatos para 40 vagas, havendo necessidade de seleção. Já o segundo – e último – ocorreu em 1965, com concorrência superior à anterior.


O sucesso dos cursos livres foi tamanho que o reitor da UFC à época, Antônio Martins Filho, aprovou, em 12 de novembro de 1965, no Conselho Universitário (Consuni), a Resolução de nº 182, criando o curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará.


Essa conquista foi concretizada com a contribuição de Antônio Carlos Campos de Oliveira, então presidente da ACI, e da jornalista Adísia Sá, que foi convidada a visitar outras universidades e faculdades do país, com o objetivo de adquirir experiência para a formação da primeira matriz curricular.


O curso de Jornalismo da UFC teve como sua primeira sede o prédio da Associação Cearense de Imprensa (ACI), no 5º andar do Edifício Perboyre e Silva, na rua Floriano Peixoto, 735, no Centro de Fortaleza.


Lá funcionou, de 1966 a 1967, a diretoria e a secretaria do curso. Já as aulas ocorriam, nesse mesmo período, nas dependências da Faculdade de Farmácia e Odontologia da UFC, à época localizada na rua Barão do Rio Branco, também no Centro da capital cearense.


Construção, nos anos 1950, do Edifício Perboyre e Silva, onde até hoje se localiza a Associação Cearense de Imprensa (ACI), na rua Floriano Peixoto, 735, Centro de Fortaleza; local abrigou diretoria e secretaria do curso de Jornalismo da UFC / Acervo da ACI


Edifício Perboyre e Silva já concluído, onde se localiza a Associação Cearense de Imprensa (ACI) desde 1959, na rua Floriano Peixoto, 735, Centro de Fortaleza / Redação CN7

Infelizmente, os primeiros anos do curso de Jornalismo não foram fáceis. De um lado, havia a falta de instalações adequadas para o funcionamento das salas de aulas; do outro, as promessas de soluções sempre muito duvidosas.


O sonho de se ter um prédio próprio logo foi concretizado, tendo em vista o compromisso assumido pelo reitor à época, Fernando Leite, de que o prédio da Faculdade de Farmácia e Odontologia iria ser cedido ao curso de Jornalismo assim que a unidade da área da saúde fosse transferida para o bairro Porangabussu, onde funciona até hoje.


No entanto, em 1968, o curso de Jornalismo acabou sendo transferido temporariamente para as dependências do Centro de Cultura Portuguesa, no Centro de Humanidades 1 (CH1), no bairro Benfica.


E, em seguida, no mesmo ano, a localização anterior – onde até então funcionava a Faculdade de Farmácia e Odontologia – foi efetivada como sede do curso de Jornalismo, sendo conquistada com muita luta, ocupação e persistência dos estudantes à época.


O curso de Jornalismo permaneceu na rua Barão do Rio Branco de 1968 a 1975, posteriormente rumando para a sua sede atual, no Centro de Humanidades 2 (CH2), localizado na avenida da Universidade, nº 2762, no bairro Benfica.


Centro de Cultura Portuguesa (CCP), hoje Casa de Cultura Portuguesa, no CH1 (bairro Benfica), abrigou o curso de Jornalismo da UFC por um curto período, em 1968 / Rafael Santana

Aulas de Jornalismo ocorreram na Faculdade de Farmácia e Odontologia, localizada à época na rua Barão do Rio Branco, no Centro de Fortaleza, de 1966 a 1967 (de modo provisório) e de 1968 a 1975 (de modo permanente) / Imagem da década de 60 / Acervo do Memorial da UFC

2º andar do prédio onde hoje funciona o curso de Jornalismo da UFC, no Centro de Humanidades 2 (CH2), no bairro Benfica, em Fortaleza / Rafael Santana

2º andar da sede atual do curso de Jornalismo, localizado no Centro de Humanidades 2, na avenida da Universidade / Rafael Santana

Sede atual do curso de Jornalismo, no CH2, Benfica / Rafael Santana

Outras mudanças continuaram ocorrendo durante toda a jornada do curso: seu próprio nome, por exemplo, que passou a ser Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, em 1970; a criação do Departamento de Comunicação Social e Biblioteconomia, em 1985; a implementação de uma nova habilitação na sua graduação, Publicidade e Propaganda, em 1998, ofertado a partir do primeiro semestre do ano 2000; e ainda a transformação do Departamento de Comunicação Social e Biblioteconomia em dois departamentos distintos e autônomos – Departamento da Ciência da Informação e o Departamento de Comunicação Social, em 2002.


Em 2008, o curso de Comunicação Social (com suas duas habilitações – Jornalismo e Publicidade e Propaganda) migrou do Centro de Humanidades (CH) para uma nova unidade acadêmica criada em 25 de junho daquele ano: o Instituto de Cultura e Arte (ICA).


O ICA passou a ser composto, também, pelo curso recém-criado de Cinema e Audiovisual e pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM), além de outros cursos de graduação e pós-graduação.


Devido à configuração administrativa do ICA, que não prevê a estrutura de departamentos, o Departamento de Comunicação Social foi dissolvido naquele ano de 2008, passando o curso de Comunicação Social a se vincular diretamente à Direção do ICA.


Embora oficialmente compondo o ICA, com sede no campus do Pici, as duas habilitações do curso de Comunicação Social se mantiveram no CH2, no campus Benfica.


Em 2011, por orientação das novas diretrizes curriculares do Ministério da Educação (MEC), a UFC estabeleceu a separação das duas habilitações, criando dois cursos distintos: um de Jornalismo e outro de Publicidade e Propaganda.


Em 2016, o colegiado do curso de "Comunicação Social - Publicidade e Propaganda" decidiu transferir sua estrutura para as dependências do ICA, no campus do Pici. Já o curso de "Comunicação Social - Jornalismo" decidiu permanecer no CH2 (Benfica), onde se localiza até hoje.


Apesar da distância física, os dois cursos até hoje mantêm diálogo constante por meio de ações como o Programa de Educação Tutorial (PET) de Comunicação, o Diretório Acadêmico Tristão de Athayde (Data) e os projetos de extensão Liga Experimental de Comunicação e Grupo de Estudos e Práticas em Jornalismo Audiovisual (Gruppe), além da realização da semana conjunta de recepção dos calouros dos dois cursos.

 

Em 2020, o "curso de Comunicação Social - Jornalismo" passou a ser denominado apenas como "curso de Jornalismo", com o objetivo de adequar seu novo projeto pedagógico às Diretrizes Curriculares do Curso de Jornalismo elaboradas em 2013 pelo Ministério da Educação.


Atualmente, todos os cursos do ICA funcionam no campus do Pici, à exceção do Jornalismo, que permanece no Centro de Humanidades 2. Esse fato levanta uma discussão que ecoa há anos nos corredores do prédio do CH2, que se refere à possível mudança física do curso de Jornalismo, do bairro Benfica para o campus do Pici.


Apesar de existir certo sentimento de incerteza sobre o futuro do curso de Jornalismo da UFC nos próximos anos, o fato é: por onde ele caminhar, marcas e registros ficarão. E sempre haverá muitas histórias a serem escritas.



*Rafael Santana é estudante do curso de Jornalismo da UFC e bolsista vinculado à coordenação do curso | Edição: Robson Braga



Referências:


SÁ, Adísia (org.). O ensino do jornalismo no Ceará. Fortaleza: Edições UFC, 2011.


SÁ, Adísia. Ensino de Jornalismo no Ceará. Fortaleza: John Hopkins University, School of Hygiene and Public Health, 1979.


SÁ, Adísia. Biografia de um sindicato: sindicato dos jornalistas profissionais do Ceará. Fortaleza: Edições UFC, 1981.

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